O freezer descongelado
Férias de julho, alguns dias no campo com uns amigos, escola de férias uma semana, e agora casa da vovó que mora no campo. Resolvi despachar a turma toda e ficar sozinha em casa com o Marcelo por uns 2 dias. Afinal, fazer um café da manha, arrumar a cama, dar uma geral na casa não pode demorar tanto assim.
Segunda despachei a turma depois do almoço e fotos para que te quero, arrumando as do Maranhão, photoshop nas de um jantar delicioso de 40 anos, música baixa de fundo, nos quartos, silêncio total.
Na terça, uma certa correria para fazer o café da manha, dar uma geral no meu quarto e zarpar para comprar pedras, ouro para novas peças de jóias. Fiquei 5 horas no centro da cidade, almocei esfihas num boteco, andei debaixo de chuva, mas tudo com o maior bom humor.
Chego em casa, acerto umas coisas pro banco, vou até a porta da área de serviço e vejo um sangue escorrendo pela despensa… muito sangue… Meu Deus, o freezer descongelou! Será que quebrou? Ainda dá para salvar a carne? Tem carne para 2 meses lá… pânico total. Ok. Pense rápido. Limpei os dois freezers da cozinha, um de uma geladeira porta dupla e um da geladeira pequena. Queijo branco vencido, massa de pastel congelada… resto de sorvete, nossa quanta coisa vencida, que desperdício.
Segundo passo, transportar as carnes, frango e peixes ainda congelados para a cozinha. Que gelo!!! Preciso de luvas! E lá vou eu. Tudo transportado, sangue pelo caminho, cena com um quê de Almodovar. Tudo bem. Detalhe, eu quase não como carne, justamente porque tem tanto sangue, me lembra podridão e selvageria, só como happy Chicken (frango orgânico), e coisas do mar. Ok, eu ando num tremendo bom humor, passei uma semana viajando, tirando fotos, não vou perder a calma. Um pano de chão, mais um, três, quatro, e cinco… preciso de música. Ligo algo do Iphone e continuo, limpo bem o freezer da geladeira dupla, até lavo a parte debaixo, e guardo, carne, frango e peixe em prateleiras separadas. E aquele inferno de sangue, lavo os panos de chão, lavo a cozinha, limpo a área de serviço com sabão e depois com álcool.
Vejo o absurdo do estoque de comida que faço. Reflito sobre desperdício e tomo duas decisões, não preciso de freezer, moro nos Jardins, tenho mercados, açougues ao lado de casa, para quê esta mania de estocar? Ok, freezer vai embora. Vou comprar comida aos poucos, como os sábios europeus, tudo fresco e sem esta estúpida mania americana de congelar tudo. Segunda decisão, coleta seletiva de lixo. Já levo lixo para a escola separado, mas ainda não faço 100%. Vou convencer o marido e síndico a instituir no prédio.
Uma hora e quinze minutos depois, tudo limpo, guardado, a cozinha cheirosa, os panos de chão de molho, vejo como uma Polyana moderna a lição aprendida neste dia frio e tão vermelho. Menos é mais, e esta lição vai aos poucos se estendendo para todos os campos da minha vida… Menos ambição, menos desejo pelo material, mais espiritualidade, mais comunidade, mais coletivo.
Me sinto bem. As transformações acontecem gradualmente em minha vida, basta abrir os olhos e enxergar com a alma. Ela sim, sabe exatamente do que precisamos.
Re, adorei!!!
Tia, a minha mãe também passou por um momento parecido, e ela também fez essa decisão! apoio super.
Te falei outro dia querida, a gente vai se desapegando de algumas coisas sem sequer perceber… Bjs